segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Luisa Marilac Conta TUDO



Quem nunca ouviu falar de Luisa Marilac, a travesti que ficou famosa após a gravação de um vídeo da mesma na piscina situada na cobertura de sua casa na Europa ou de sua frase que acabou virando bordão: "E teve boatos de que eu estava na pior. Se isso é estar na pior... Porra! O que quer dizer tá bem, né?"? E foi essa figura com toda sua simplicidade, humildade e boa vontade que concedeu uma entrevista baphônica que vocês poderão conferir logo abaixo.

1. Muitos te conhecem apenas pelo seu vídeo, mas conte aqui pra gente um pouquinho de sua história. Como surgiu Luisa Marilac em sua vida?
Desde pequena me via como mulher. Nunca me encarei como homem, apesar de ter que me encaixar nos padrões ditados pela sociedade. Logo que cheguei na adolescência, não tive mais como negar a minha natureza, minha necessidade de me assumir como mulher. Comecei a me transformar aos poucos, até que um dia, fui agredida por um desconhecido, que me deu 7 facadas em um bar. Perdi um pulmão nessa brincadeira e,  depois do trauma, acabei indo embora pra Itália pra viver minha vida e montar meu corpo. Lá aconteceu de tudo (que vocês vão poder conferir no meu livro logo mais) e, uma das loucuras foi o que me motivou a fazer aquele vídeo que me projetou.

2. Casada, solteira, enrolada... Como está o coraçãozinho de Luisa Marilac?
Sempre com meus contatos, né meu amor! Afinal, a gente precisa exercitar o que é bom na vida, que é se relacionar, beijar na boca e amar com tudo. Não pretendo me relacionar com ninguém no momento, mas não fecho minha vida pros bons sentimentos.

3. Hoje há uma grande aceitação em relação a essa diversidade, a comunidade LGBT, mas mesmo assim sabemos que ainda há muito preconceito escancarado na nossa frente, presente no dia-a-dia de todos. Você sofre algum tipo de preconceito? Como isso ocorre? Como você lida com isso?
Sofro preconceito a todo momento. Ser travesti, principalmente no Brasil, é um desafio que exige coragem e muita força. Como te falei antes, um ato de agressão e preconceito foi o que me motivou a sair do país e tentar a vida lá fora. Sempre tento me colocar como uma pessoa respeitável e compreensiva, mas não permito que me desrespeitem, porque só a gente sabe o que enfrenta nesse mundo pra poder ser aquilo que somos de verdade. É preciso coragem e muito jogo de cintura! Se precisar rodar a baiana, eu rodo! Aí, dá babado, meu amor!

4. Há pouco tempo ocorreram as eleições aqui em São Paulo e muitos que lutam pela causa LGBT se candidataram, mas nenhum foi eleito. O que você pensa sobre isso? Você se arriscaria a entrar para a política? Por quê?
Eu acho que os candidatos ainda não conseguiram expressar a causa de um jeito que a população consiga entender. Eu penso em entrar pra política, mas tudo tem sua hora. Não quero defender apenas a comunidade GLBT, mas o povo brasileiro, porque o mal da maioria das travestis não é só o fato de sermos travestis, mas a pobreza. Porque com dinheiro, você faz as pessoas engolirem aquilo que você é. Veja o que foi o Cazuza naquela época. Não tava nem aí, dava bafon, fazia e acontecia e tava tudo bem, mas não era só por causa do talento dele, mas porque a família tinha muito dinheiro. Então, a gente precisa tratar das duas coisas: da transgeneridade, dos direitos iguais entre as minorias, mas também tratar da pobreza, que é a base da desgraça desse país.

5. Bom, agora vamos falar sobre o famoso vídeo. O que te fez gravar esse vídeo tão visto e falado por muitos?
Eu fui pra Espanha com meu namorado italiano pra gente se casar. Chegando lá, o desgraçado me deu um golpe e fugiu com tudo, meu dinheiro, meu cartão de crédito, minhas malas... Tudo que eu tinha! A bicha aqui ficou na pior, literalmente! Quando me dei conta, que não tinha mais nem onde morar, me desatei a chorar no meio da rua, desesperada. Quando uma senhora me viu chorando e decidiu me ajudar. Alugou o apartamento dela pra mim e me deu um voto de confiança. Naquele dia, decidi tomar um pilequinho pra dar uma relaxada. Preparei meus bons drink, fui pra piscina do prédio e gravei aquele vídeo pra jogar na cara daquele desgraçado e de mais algumas filhas da puta que tava querendo me jogar pra baixo. Aí, deu no que deu.

6. O que você pensou quando viu o tamanho da exposição que o vídeo lhe causou?
Fiquei louca! Aí, me empolguei e comecei a gravar um vídeo atrás do outro. Adorei o babado!

7. Hoje em dia, quais os trabalhos que você executa?
Ainda vivo de algumas reservas de dinheiro que acumulei com minha exposição na mídia e to escrevendo meu livro. Adoraria um dia encontrar um trabalho fixo, mas é muito difícil o mercado de trabalho dar abertura a travestis e transsexuais. Eu to trabalhando e esperando que dê tudo certo. Sou feliz com o que eu sou e espero poder mudar alguma coisa na realidade dessas minorias que passam seus dias comendo o pão que o diabo amassou. Mas, enfim, minha querida, é isso. To com meus projetos, usando minhas reservas, mas querendo oportunidades de trabalho pra me manter longe da prostituição.

8. Sempre temos que ligar com o lado negativo da coisa, o que você pensa das pessoas que te julgaram pela fama repentina por causa do tal vídeo?
Não penso nada. É problema delas. Não tenho controle nenhum sobre o que pensam de mim. Mas, que dá raiva as vezes, isso dá, porque tem muita gente maldosa por aí.

9. Muitas boates gay te contratou depois da fama do vídeo, certo? Isso ainda continua?
Sim, muitas me contrataram. Foi babado! Adorei. Teve uma que fui até com o pé torcido. kkkkkk. A bicha tinha que honrar com o público. Enfaixei meu pé, coloquei um calçado bem firme e fui! No fim, foi um arraso! Hoje, os convites diminuiram, mas inda tem boates que me chamam pra animar a noite e atrair público. Graças a Deus, tenho um público muito amoroso e companheiro, que me dá força pra enfrentar as dificuldades da vida.

10. Seu vídeo foi visto por milhares de pessoas e ainda hoje muitos usam seu famoso bordão "E houve boatos..." Enfim, o que você sente quando escuta as pessoas usando seus bordões na rua, em boates ou até mesmo na TV?
Me sinto ótima! kkkkkk. Queria é ganhar um bom dim-dim a cada vez que usassem na TV, mas não é bem assim que as coisas funcionam, então, me divirto vendo que, de alguma forma, me mantenho viva na boca do povo! kkkkk.

11. A pergunta que não quer calar: Teremos o prazer de ver mais vídeos de Luisa Marilac? Se sim, conte-nos um pouquinho sobre ele e quando pretende jogar pro Youtube.
Sim! Verão vários vídeos novos. Iniciei um programa no Youtube chamado "Algo de diferente com Luisa Marilac". onde eu me dou o direito de falar o que quiser, seja pra falar mal do transporte público de São Paulo ou ensinar a fazer uma feijoada ou dar dicas de uma boa xuca. A loca! kkkkkk. To brincando... Eu gosto é de falar sério, mas de um jeito divertido. O povo gosta de palavrão e eu tenho a boca suja, então, ta tudo certo. Agora, to com o editor dos meus vídeos ajeitando uns problemas pessoais dele, então, os vídeos tão demorando um pouco, mas logo, logo vai vir uma leva boa de vídeos novos. Podem aguardar, meus amores!

12. O que te fez voltar a morar no Brasil? Ainda pensa em morar fora?
A fama me trouxe pro Brasil. Foi ótimo! Agora, to aproveitando minha família e escrevendo meu livro. Sem planos de voltar, por enquanto. Quero é deixar minha mensagem bem clara e esperar poder fazer alguma diferença aqui, onde a realidade é muito mais dura que a lá de fora.

13. Gostaria que você deixasse um recadinho a todos os leitores do blog.
Eu digo: nunca deixar de ser aquilo que você é. Siga sua natureza, se respeite e respeite os outros. Saiba a hora de se retirar, de pedir desculpas, de assumir seus erros, mas também, saiba subir nas tamancas e dar o bafon quando o assunto for construir um mundo melhor e lutar pelos seus direitos. De resto, beijem na boca e amem muito. E se for com os bons drink, melhor ainda! kkkkk.



E houve boatos de que Luisa Marilac era só bagunça! Enganaram-se!
Espero que tenham gostado e se deliciado com essa entrevista assim como eu. Fiquem ligados em sua página no Youtube, que logo logo vem novidades por aí: http://www.youtube.com/user/luisamarilac


Agradeço imensamente a Luisa Marilac e sua assessoria por ter concedido essa maravilhosa entrevista ao blog e a Priscilla Drag pelo apoio, força e auxílio nessa primeira de muitas outras entrevistas que virão por aí.

E pra quem ainda não viu o tão falado vídeo, taí:

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