quarta-feira, 27 de março de 2013

Entrevista com ALEXIA TWISTER: A Top Drag do Brasil

Nascida em Taubaté e criada em São José dos Campos, Alexia Twister é uma das Drag Queens mais famosas, queridas e competentes da cena LGBT e abre um pouquinho de sua vida numa entrevista bem intimista para o Drag Lovers.

Foram abordados assuntos como: decadência da noite LGBT, presidência de Marco Feliciano na CDH e muitos outros que vocês poderão conferir logo abaixo.


Como surgiu Alexia Twister em sua vida? E de onde saiu esse nome tão forte?
Alexia por causa da cantora de "Uh lalala..." hit dos 90's. (vocal pequeno e delicado). Dizem também que foi por causa de um antigo "namorado", que se chamava Alex. Eu não reconheço esta segunda versão. Rs. Twister por causa do filme. Meu amigo que era DJ, me deu este nome porque queria que eu fosse uma top drag, como a incrível Veronika*. Mas como ser top com 1,63 e 1/2 de altura? 
Eu dançava e fazia teatro, isso já desde muito cedo. E quando, no interior ainda, eu comecei a sair a noite e conhecer a vida gay, tive a oportunidade de assistir aos shows de Drag Queens e transformistas e me apaixonei pelo trabalho. Na verdade eu me sentava bem em frente a TV, muitooooo criança ainda, para assistir aos shows de transformismo no programa "Show de Calouros". Eu senti que queria fazer aquilo, mas guardei comigo. Foram meus amigos, que cansaram de me ver dublando, imitando Drags e cantoras famosas, quem me inscreveram em um concurso de novos talentos, chamado "Novos Lamentos"... Eu participei e fiquei em segundo lugar. Kkkkkk

*Veronika foi uma top drag nascida em São José dos Campos, que fez história nos principais clubes gays de São Paulo e no dia 13 de fevereiro de 2007 foi encontrada morta em Jacareí-SP. 

Na maioria das vezes, início de carreira não é nada fácil. Você já passou por alguma dificuldade que te fez, por algum momento, pensar em desistir?

Bom, eu considero mesmo começo de carreira quando vim para capital trabalhar. Não desmereço nada do que aprendi antes disso, pelo contrário, me preparou para encarar o competitivo mercado de trabalho de São Paulo. Porque foi aí que eu comecei a sentir realmente as dificuldades da carreira. Dificuldades de início de carreira são inúmeras. Mas, na minha opinião, a parte mais difícil do início de carreira e é até hoje, a saudade. Estar longe das pessoas que eu amo. Viagens, ensaios, compromissos e trabalho são maravilhosos, mas me tiram de perto da minha família e amigos. Muitos não entendem, mas esta é a vida que eu escolhi, não é mesmo? Quando no palco, eu consigo enxergar aquele rostinho sorrindo pra mim, tudo passa e fica maravilhoso de novo. Por isso nunca pensei em desistir.

Acho que todos tem a curiosidade de saber quem está por trás dessa indumentária toda. Conte-nos um pouquinho sobre a vida do criador de Alexia Twister e o que o criador e a criatura têm em comum.
Ele tem uma vida bastante voltada pra mim, naturalmente, rs. Mas hoje em dia, pode se dar ao luxo de desfrutar da sua própria vida. Ele é tímido, ao contrário de mim. E morre de vergonha quando descobrem quem ele é. Rs. Mas compreende que isso seja natural. Afinal, ele tem orgulho de mim, da "persona" que me tornei. Interessada em aprender, em melhorar, mudar.
Temos muito em comum, afinal somos "alma gêmeas", mas nossa maior afinidade é o amor pelo palco.

Por que e em qual momento da sua vida você resolveu sair de São José dos Campos e vir para São Paulo?
Decidi sair de São José porque a boate em que trabalhávamos fechou. Só que este processo todo foi acontecendo naturalmente. As oportunidades foram aparecendo, a medida que nosso trabalho ia minguando. Aliás, como tudo em minha vida. Eu sempre me deixo levar por uma fé em uma consciência superior, Deus, o destino... Seja o nome que queira dar. Eu vinha para São Paulo fazer um show aqui, outro lá, depois voltava para São José. Fui me adaptando à cidade grande, até que a vida me trouxe de vez para São Paulo.

No seu dia-a-dia você costuma ser muito "tietada" quando reconhecida?
Rs. Eu vejo como um carinho. De certa forma, muito íntimo. Como um amigo de muitos anos, que sabe quem você é, mesmo com "roupas diferentes". Apesar da timidez, eu acho lindo. É maravilhoso este carinho.

Imprevistos acontecem: o picumã cai, a neca desaquenda, o salto quebra, a roupa rasga, as quedas acontecem... O que de mais engraçado e/ou constrangedor já aconteceu com você em cima do palco? O que foi feito para contornar a situação?
Meu amor. Rs. Muitas coisas.
Eu já peguei fogo em cena, você imagine o resto. Todas as situações citadas acima foram vividas por mim. Graças a Deus, não no mesmo show. Rs.
Eu sempre tento usar do bom senso. Se o erro foi impossível de ser notado, eu me concentro e finjo que nada aconteceu. Muitas vezes dá certo, mas quando o erro é visível, aí não tem jeito. Ou você chora, ou você ri. Eu normalmente rio na hora, mas depois me crucifico pelo erro. Mas estamos trabalhando para melhorar isso.


Seus shows são sempre muito bem executados, tudo muito impecável. As produções são criações suas?
Sério?! Nossa, fico feliz em saber disso. Muito obrigada. Eu tenho um super estilista. Ele é incrivelmente criativo. Edson Fabrício é o nome dele. Criamos bem juntos, é como um casamento feliz. Mas muitas vezes. deixo nas mãos de Edson. Ele é bailarino e entende a junção complicada e ao mesmo tempo perfeita entre costura e dança.

Muitos acham a noite gay cada vez mais decadente. Por exemplo: hoje em dia, há apenas UMA casa LGBT em São Paulo que realmente tem estrutura para que grandes shows aconteçam, a Blue Space. O que você acha da casa? Como é fazer show lá?
Eu concordo com este pensamento. A noite está decadente. Talvez seja assim mesmo. A gente sempre acha que antes é que era melhor, mas quando falamos de show, a situação não anda tão bem. A Blue Space é o sonho realizado, eu desejei muito estar ali. É maravilhoso trabalhar lá, mesmo com a responsabilidade assustadora de um grande time atrás de você. Se erramos, comprometemos o trabalho de todos. E assim, eu procuro agir em todas as casas. Eu amo meu trabalho e amo todas as casas que eu trabalho. Cada uma ao seu modo, tem o público específico, diferente. Existem públicos mais difíceis de agradar. E por aí vai... Eu não as denomino mais, não apenas por politicagem, mas por todas, ao seu modo, serem especiais para mim.

Você se considera Drag Queen ou Transformista? Fale um pouquinho sobre a diferença entre as duas coisas.
A Drag Queen pura, em essência é o exagero da mulher, a brincadeira. Já a Transformista tenta chegar o mais próximo do estilo, postura e visual feminino. Eu transito bem entre Drag e Transformista. Eu tenho a oportunidade de matar a saudade de ser a Drag que eu fui, sem perder a transformista que sempre esteve dentro de mim. Mesmo com a aparência mais transformista. não me permito intitular. Deixo a cargo e interpretação do público.


Você, melhor do que eu, sabe que muitas Drags por vezes tem ataque de estrelismo, maltratando e ignorando seus fãs. O que você acha sobre as que fazem isso e o que você faz para ficar mais próxima de seus fãs?
Eu entendo que muitas vezes somos muito cobradas, julgadas. Somos muito ofendidas às vezes, mas eu entendo que isso faça parte do trabalho. Trabalhamos com pessoas, e existem todo o tipo de pessoas, com opiniões diferentes. Estamos expostas. Escolhemos isto e temos que levar com bom humor. Procuro sempre ser realmente grata às pessoas que gostam do trabalho que faço. Porque eu simplesmente faço. Quero agradar, é evidente! Mas não sou tão calculista. Faço pra mim, mas também faço para o público. Como disse acima, para mim é como o carinho de um amigo que me conhece muito bem. Nosso trabalho já nos torna próximos das pessoas. Eu procuro ouvir o público, gosto de saber o que eles esperam de mim.

O assunto mais discutido atualmente é sobre a presidência de Marco Feliciano na Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDH). Qual a sua posição sobre este assunto? Você aderiu à campanha "Marco Feliciano Não Me Representa"?
Sim, aderi, mesmo não fazendo a "clássica" foto. Se me permite, vou deixar aqui o mesmo texto/opinião declarado por mim, ao site Planeta G:
"Sinto-me "muda". Calaram nossa voz e nossos direitos. Mais uma vez, a falta de informação aliada a interesses maiores, triunfou neste país de minorias. Onde só grita, quem tem dinheiro, pele branca e mesma orientação sexual da maioria."

Deixe um recadinho, um "fica a dica" para seus fãs e leitores do blog.
Acredito que o que tenho a dizer não é bem uma dica. Sem no fundo, deixar de ser. Eu só gostaria de agradecer a oportunidade de falar sobre o meu modo de pensar. Sobre o meu trabalho, que é minha grande paixão. Talvez a paixão seja a grande dica. A paixão no que deseja fazer na vida. Fazer com paixão é sempre melhor e rende bons frutos.



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